terça-feira, 5 de julho de 2016

«Não há ninguém perto de si»



"... Eu sei, Tinder, foi precisamente por esse motivo que aí criei uma conta."

Passaram-se dois meses desde que criei uma conta no Tinder (ver aqui), e a experiência está a ser mais ou  menos a mesma de quando uso Axe. Uso aquilo, mas elas não caem instantaneamente que nem tordos como na publicidade.

Para quem não conheça a aplicação, a experiência ao início é no mínimo um pouco bizarra. Cheguei mesmo a descrever a coisa a amigos meus como estares em frente à vitrine dum talho a decidir qual é o melhor naco de carne disponível, só que a carne são moças, e por algum motivo as moças são maioritariamente espanholas e brasileiras. Logo estás num talho metafórico, mas num que existe dentro de um livro do Eça de Queiroz.

Apesar do triste reflexo da minha realidade que esta aventura virtual está a ser, a experiência global está a revelar-se toda uma dissertação sociológica.
Gosto particularmente do facto de a maioria dos perfis femininos consistirem apenas numa foto com um nome e uma idade. Sem nada mais. Elas sabem que não precisam de mais para conseguirem um "like". E têm razão. 
Já deste lado, a sensação é que tens que dar o teu máximo para seres o pavão que mais se destaca. Tens que parecer giro. Tens que parecer inteligente. Tens que parecer interessante, Tens que parecer divertido. E com sorte ao fim de dois meses consegues três correspondências, duas das quais duvidas seriamente que não tenham sido por engano. (Meninas, a caixa de mensagens é suposto ter uma função!)

Mas as constatações sociológicas não se ficam por aqui. Temos também as situações caricatas. Por exemplo, nunca sei se as jovens que criam contas na aplicação com fotos acompanhadas dos seus namorados me estão a querer dizer que não querem cá tipos a atirarem-se a elas - invalidando assim toda e qualquer lógica para terem criado uma conta ali em primeiro lugar -  ou se na verdade me estão a querer dizer que a festarola a acontecer vai ser a três, mas não com o rácio de mulheres para homens que nós assumimos sempre nessas situações.

E o que dizer das fotos com crianças? Ou melhor, que dizer dos perfis em que a foto principal são só crianças? Senhoras com filhos, compreendo que procurem alguém que esteja disposto a gostar das vossas crianças e a aceitá-las. Não sei é se com essa táctica não vão só ter correspondências com pessoas que estão dispostas a gostar demasiado das vossas crianças... 

Temos ainda a questão dos perfis falsos criados por bots mal intencionados que nos querem contaminar as maquinetas com malware. Abundam por ali, e as probabilidades de termos uma correspondência com alguém que no fim não passa duma Bimby são bastante elevadas. Dito isto, nem o raio das máquinas me pegam!

Por último, queria deixar uma mensagem de afecto para o informático do Tinder que se lembrou de inventar o "Super Like", essa linda opção cujo comando se confunde a toda a hora com o comando de aceder aos detalhes do perfil, o que faz com que enviemos constantemente "likes" especiais a quem não o queríamos fazer e assim passar vergonhas quando essa pessoa nos faz "like" de volta. Citando o filme The Dark Knight, «some men just want to watch the world burn». Estou solidário, companheiro.


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